Mal que me corói

Foi como respirar depois de passar muito tempo imersa. Forte, puxando até o ar que não cabe nos pulmões. Não foi bom como respirar, mas foi desesperador como estar imersa. De repente eu estava lá. Meu coração batia com toda sua força, minha garganta estava trancada para segurar o que vinha se aproximando galopante do meu peito, minha pele descolava-se dos músculos abaixo dela e tilintava arrepiando, por consequência meus músculos estavam soltos e eu já não controlava muitos deles, meu ventre sentia como se um cabo de aço o atravessasse de um lado a outro, até não conseguir segurar a explosão que passou estourando a pedra na minha garganta e vazou de mim um líquido que aliviava a pressão. Sentir a carne doer de tanto pavor, não ter mais certeza dos sentimentos, preferir fugir a enfrentar é o resumo de tudo. Ter injeções de adrenalina  e ácido percorrendo as veias, não aguentar mais a dor na boca do estômago.

Era impossível, para alguém como eu, não imaginar cada detalhe do que me foi dito, do que li e muito mais de coisas que não haviam sido mencionadas. Não me fugia ao filtro da imaginação a forma com que ele tocava a pele dela, nem a forma com que ele a olhava, muito menos de como ela reagia ao sentir a língua molhada e macia dele passando por sua boca levada. Não consegui conter o turbilhão de imagens que me bombardeavam. A posição de suas mãos pelo corpo dela, a roupa que usavam, o líquido que escorria pelas pernas dela, o que ela sentia quando os dedos dele a passeavam, a paixão que crescia no peito dela, a língua dele tocando a região mais escura dos seios dela. 

Minhas unhas cravam meu pescoço com a ideia, minha mente flutua se debatendo. Pensei que eu fosse imune, que teria um limite, mas é matemático, diretamente proporcional, e quanto mais eu o amo o mal cresce e cada dia que passa eu o amo mais.

Exaustão. Já não quero mais minha consciência sendo consumida. É como um animal insaciável, todos os dias precisa ser alimentado.

O desejo mais forte que percorre sua mente é de trancá-lo num quarto no meio do oceano com senha biométrica e ocular. Assim ninguém, além de você, pode acessá-lo. Que idéia doentia, mas somos doentes. Contudo, há uma forma menos invasiva, seria tão simples se ele entregasse seus olhos, anseios, planos, tempo, criatividade, amor e paixão só para mim, mas o problema é que isso não existe.  O egocentrismo é demais para isso.

Saber do pior e do melhor que aquelas mãos fizeram, do que aquela mente planejou. Ver o quão lindas “as outras” são é o que torna pior, sentir que elas poderiam tê-lo a qualquer momento, mas não foi disso que vim falar, estou aqui apenas para descrever e nesse ponto o leitor já deve ter percebido do que se trata esse texto. A mais pura descrição do mal que me corrói. O ciúme.

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